A Winterreise (Viagem de Inverno), que começa com um Gute nacht ("As I pass, I write 'Goodnight' on your gate, so that you may see that I thought of you" - que é o adeus mais bonito, porque silencioso, da história das separações), termina com a morte a namorar o amante desiludido - ou ele a ela. Estaria Schubert numa "black mania" quando compôs esta morte ao piano? Teria visto a morte? Ouviu-a de certeza, disso não há dúvida, e reproduziu-lhe a voz. O tocador de realejo ("Leiermann", hurdy-gurdy em inglês), ou o piano que reproduz esse instrumento, não representa a morte: ele É a morte, seduzindo com harpejos cautelosos o amante no fim da viagem. Mesmo sem perceber a letra, a conversa que ambos têm, piano/homem do realejo e barítono/amante, ouve-se com sobressalto - porque tememos ser seduzidos?
A primeira vez que ouvi a Winterreise, guiada por uma mensagem escrita a letras invisíveis num portão à vista de todos, exasperei-me com a voz do barítono/amante. Quis que se calasse, que se rendesse, que deixasse (ou)vir a morte.
Hoje, curiosamente, apetece-me ouvir o cantor e desejar-lhe Gute nacht.
Sunday, 18 January 2009
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment