Tuesday, 31 March 2009
Solta o Henry Boy que há em ti!
É a frase do dia, seleccionada por um rigoroso comité de irmãs doutoradas em Estudos Henriquinos. Criatividade desbragada, humor sem limites, conversa de engate criativa? Solta o Henry Boy que há em ti!
Thursday, 19 March 2009
Trinta anos de irmão
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Quando nasceu foi alvo da inspecção minuciosa das irmãs, ambas na idade impressionável que antecede os estudos primários: "Ui, que feio que é o mano!", concluíram. Juízo precoce: em menos de nada converteu-se num bochechudo que apetecia comer à dentada, bombocas de morango ou de chocolate à escolha das freguesas, as mesmíssimas más-línguas da maternidade, agora convertidas à adoração do irmão.
Entre o amor e o ódio, venha porém o diabo e escolha: regressadas da escola, vestíamo-lo de vestidinho aos folhos por cima da camisola, chapéu de lã com flores, que bonito que era o mano, qué guapo!, juravam as espanholas da Aldeia das Açoteias, ainda o Algarve não era a West Coast, ele rodeado de bolas de todos os tamanhos e feitios, oferenda dos adultos na tentativa vã de o conquistarem só para eles.
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Todos o queriam: houve mesmo quem quisesse comprá-lo, "nós não temos filhos, vocês já têm duas, deixem-nos adoptá-lo, pagamos o que for preciso". Queriam: o progenitor sempre foi paranóico, e com nenhum dos filhos tomou tantos cuidados para que não fossem raptados. Os perigos espreitavam realmente de todos os lados, mas como noutros crimes com menores, o maior de todos acoitava-se em casa: eu, a mana mais velha na-altura-não-tão-velha, sonhava raptá-lo, minha única trouxa quando fugisse de casa, que foi lugar que sempre achei um bocado mal frequentado e de onde pensei raspar-me mal me trouxeram da maternidade.
Tinha tudo planeado com a logística perfeita dos sete anos (já nessa altura era uma grande estratega): abalávamos de boleia para o Porto (que na altura se limitava à rua Pereira Reis), eu vendia bugigangas nos cafés (amostras de champô e perfume que havia de cravar nas perfumarias do bairro ou roubar das revistas na tabacaria), e com o lucro comprava bens de primeira necessidade para ambos, arroz, arroz e mais arroz (datam dessa época as infindáveis perguntas à mãe, "mãe, quanto custa um Kg de arroz?", "mãe, quanto custa uma dúzia de ovos?", havia que deitar contas à vida caso a quotação das amostras baixasse abruptamente no mercado). Note-se que não me movia, neste rapto sonhado que me consolava os dias, nenhuma espécie de altruísmo ("tenho de salvar o irmão das garras do amor paterno"). Nã, egoísmo do mais desbragado: passe o dramatismo, não podia viver sem ele.
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Irmão "drag queen"
Trinta anos dele e continuo a precisar do gajo como de arroz para a boca. No Península a curtir uma fossa colectiva, tive uma noite uma bela epifania: eu era na verdade uma felizarda amada pelos deuses, porque apesar de todos os pesares, tinha uma versão revista e melhorada de mim própria na família, quitadinha com carradas de sentido de humor e sex appeal masculino. Agora vejam bem se atingem a enormidade da revelação (noite iluminada, essa): em milhões de famílias chinesas, argentinas, togolesas, venezuelanas ou guianenses à escolha, o meu irmão tinha nascido por puro e inacreditável acaso na mesma família que eu. UAU! Pasmem. Acreditem em deus ou nos deuses, na reincarnação do espírito, na pagã serendipidade: esta coincidência, sob todas as evidências um prodígio de generosidade do grande arquitecto, beneficiava-me a mim e só a mim: o Universo era na altura um lugarejo deserto e assustador, e sem o irmão eu teria batido com a porta antes de completar oito anos. Não seria grande perda, mas era uma merda, porque tínhamos ambos ainda muita coisa que viver.
Como nas grandes paixões, estar com o mano foi sempre um fim em si mesmo. Praticávamos ambos o situacionismo avant la lettre, antes mesmo de ele me ter apresentado Guy Debord: hei-de estar às portas da morte, ou ela à minha porta, e no filme da minha vida que não hei-de deixar de visionar reverei um rapaz e uma rapariga com narizes da mesma estirpe, deitados no esplendor da relva a ecoar "UóÁÁ!", agitando o sol com as suas gargalhadas, algures na Alsácia francesa - ou de como a plenitude do ser, desculpem o palavrão, se contenta com bem pouco. Outros programinhas situacionistas: o luxo de gastar tardes inteiras a pedalar na Volta a Portugal, deitada no sofá ("Podes sonhar! Correr o mundo nessa nave a pedal!"); ser usufrutuária de "dopping" de empurrão nas encostas de Porto Santo; discutir o sentido da vida em longas chamadas telefónicas; devorar compotas para calar "fame chimica"; preferir um relvado na Alemanha a todas as catedrais do país ("Está gostando de Bonn?"). Foram cardos, foram prosas, porque esta love story tem tudo para ser um sucesso de audiências Hollywoodesco, drama, tragédia, suspense e dor. A actriz que dará vida à minha interessantíssima pessoa há-de chorar longas lágrimas num comboio regional a regressar de Utrecht, há-de sobressaltar-se no dia de Natal a muitas milhas de distância, e há-de querer trocar toda a felicidade a que tem direito por cinco minutos da felicidade dele. Vai ser de chorar baba e ranho, olhem o que vos digo, dramalhão à antiga com final feliz ao gosto das audiências. Havemos de ir vê-lo os dois, num cineminha em Utrecht com cartazes retro à entrada, pago eu.
N.B. O irmão fez anos há dois dias (salvé o 17 de Março!, como escreve a progenitora), mas estive raptada por múltiplos afazeres. Tarde mas sentidamente, aqui vai a minha homenagem a essa figura maior da minha vida.
Trinta anos dele e continuo a precisar do gajo como de arroz para a boca. No Península a curtir uma fossa colectiva, tive uma noite uma bela epifania: eu era na verdade uma felizarda amada pelos deuses, porque apesar de todos os pesares, tinha uma versão revista e melhorada de mim própria na família, quitadinha com carradas de sentido de humor e sex appeal masculino. Agora vejam bem se atingem a enormidade da revelação (noite iluminada, essa): em milhões de famílias chinesas, argentinas, togolesas, venezuelanas ou guianenses à escolha, o meu irmão tinha nascido por puro e inacreditável acaso na mesma família que eu. UAU! Pasmem. Acreditem em deus ou nos deuses, na reincarnação do espírito, na pagã serendipidade: esta coincidência, sob todas as evidências um prodígio de generosidade do grande arquitecto, beneficiava-me a mim e só a mim: o Universo era na altura um lugarejo deserto e assustador, e sem o irmão eu teria batido com a porta antes de completar oito anos. Não seria grande perda, mas era uma merda, porque tínhamos ambos ainda muita coisa que viver.
Como nas grandes paixões, estar com o mano foi sempre um fim em si mesmo. Praticávamos ambos o situacionismo avant la lettre, antes mesmo de ele me ter apresentado Guy Debord: hei-de estar às portas da morte, ou ela à minha porta, e no filme da minha vida que não hei-de deixar de visionar reverei um rapaz e uma rapariga com narizes da mesma estirpe, deitados no esplendor da relva a ecoar "UóÁÁ!", agitando o sol com as suas gargalhadas, algures na Alsácia francesa - ou de como a plenitude do ser, desculpem o palavrão, se contenta com bem pouco. Outros programinhas situacionistas: o luxo de gastar tardes inteiras a pedalar na Volta a Portugal, deitada no sofá ("Podes sonhar! Correr o mundo nessa nave a pedal!"); ser usufrutuária de "dopping" de empurrão nas encostas de Porto Santo; discutir o sentido da vida em longas chamadas telefónicas; devorar compotas para calar "fame chimica"; preferir um relvado na Alemanha a todas as catedrais do país ("Está gostando de Bonn?"). Foram cardos, foram prosas, porque esta love story tem tudo para ser um sucesso de audiências Hollywoodesco, drama, tragédia, suspense e dor. A actriz que dará vida à minha interessantíssima pessoa há-de chorar longas lágrimas num comboio regional a regressar de Utrecht, há-de sobressaltar-se no dia de Natal a muitas milhas de distância, e há-de querer trocar toda a felicidade a que tem direito por cinco minutos da felicidade dele. Vai ser de chorar baba e ranho, olhem o que vos digo, dramalhão à antiga com final feliz ao gosto das audiências. Havemos de ir vê-lo os dois, num cineminha em Utrecht com cartazes retro à entrada, pago eu.
N.B. O irmão fez anos há dois dias (salvé o 17 de Março!, como escreve a progenitora), mas estive raptada por múltiplos afazeres. Tarde mas sentidamente, aqui vai a minha homenagem a essa figura maior da minha vida.
Saturday, 14 March 2009
Numa acção de formação sobre violência sexual...
Formador (uma besta): Quem nunca teve fantasias sexuais desviantes que levante a mão! (auditório impávido e sereno)
Formanda (Barbie): Ai, eu acho que nunca tive...
Formador: Oh, é a única pessoa que eu conheço nessa situação!
(E durante o intervalo, em confidência)
Formador (uma besta armada em sedutor): Sabe? Estou muito preocupado consigo. Tem a certeza que nunca teve essas fantasias...?
E pagámos 45€ para ouvir isto!!!
Formanda (Barbie): Ai, eu acho que nunca tive...
Formador: Oh, é a única pessoa que eu conheço nessa situação!
(E durante o intervalo, em confidência)
Formador (uma besta armada em sedutor): Sabe? Estou muito preocupado consigo. Tem a certeza que nunca teve essas fantasias...?
E pagámos 45€ para ouvir isto!!!
Thursday, 5 March 2009
Baixa (de)pressão
H.: oi tudo bom?
moi: meia deprimida
mas isto passa-me
H.: atão?
moi: nada
dia de chuva
H.: é do tempo
não te dás com a pressão baixa
moi: estamos com pressão baixa?
H.: ya
de chuva sempre pressão baixa
a rondar os 850 Hpa
quando tá solinho pode ir até 1015 HPa
moi: meu deus, tenho que falar mais ctg
Ju passou horas a psiquiatriar-me
e afinal era só isso!
explica mais
H.: a pressão é o peso da coluna de ar sobre a tua cabeça
com variações bruscas podes sofrer
moi: extraordinário
mas olha, hoje toda a gente estava deprimida no Lux
H.: é de ser um país pequeno que sabe que a sua economia está baseada num sistema que faliu, não tem nada a ver com o tempo neste caso ;-)
moi: ahaahhaahhahahah
H.: olha uma boa música para ti
in Conversas no GCHATo (abridged)
moi: meia deprimida
mas isto passa-me
H.: atão?
moi: nada
dia de chuva
H.: é do tempo
não te dás com a pressão baixa
moi: estamos com pressão baixa?
H.: ya
de chuva sempre pressão baixa
a rondar os 850 Hpa
quando tá solinho pode ir até 1015 HPa
moi: meu deus, tenho que falar mais ctg
Ju passou horas a psiquiatriar-me
e afinal era só isso!
explica mais
H.: a pressão é o peso da coluna de ar sobre a tua cabeça
com variações bruscas podes sofrer
moi: extraordinário
mas olha, hoje toda a gente estava deprimida no Lux
H.: é de ser um país pequeno que sabe que a sua economia está baseada num sistema que faliu, não tem nada a ver com o tempo neste caso ;-)
moi: ahaahhaahhahahah
H.: olha uma boa música para ti
in Conversas no GCHATo (abridged)
Monday, 2 March 2009
Na mesma moeda
Joana: este fds, the univers kicked my ass twice
moi: shit, coitadinha...
Joana: havias de ter visto como ficou o universo!
in "Conversas no GCHATo" (adaptado; publicado com a devida autorização)
moi: shit, coitadinha...
Joana: havias de ter visto como ficou o universo!
in "Conversas no GCHATo" (adaptado; publicado com a devida autorização)
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